Opinião

A advertência das advertências

Uniformidade de pensamento é uma ameaça à democracia e à liberdade de expressão

6 de março de 2024

nelson wilians

Por Nelson Wilians*

Vivemos numa era em que somos inundados por uma variedade de opiniões e informações, tanto online como nos meios de comunicação tradicionais. No entanto, por trás dessa enxurrada de vozes, há um desafio: a tendência à uniformidade de pensamento e à superficialidade das discussões. Esse fenômeno, sob a égide do politicamente correto, representa um risco para a vitalidade e a autenticidade dos nossos debates sociais.

O termo “pasteurizar”, que se referia ao fato de tornar tudo igual e superficial, parece ter adquirido um novo significado. Agora, ele descreve o processo de nivelar tudo, eliminando nuances e profundidade. Quando as opiniões se tornam monótonas e superficiais, perdemos a riqueza da diversidade de pontos de vista. Como resultado, nos vemos presos numa era em que a diversidade de opiniões é sacrificada em nome de um consenso artificial.

Um exemplo marcante dessa uniformidade superficial ocorreu durante um debate televisivo sobre a inclusão da legalização do aborto na Constituição francesa. Cinco comentaristas expressaram suas opiniões, mas para surpresa de zero pessoas, todas soaram idênticas. O debate se tornou monótono e desprovido de divergências construtivas.

Isso nos leva a questionar o modo como abordamos o diálogo público. Não era necessário um painel de cinco comentaristas para transmitir a mesma ideia, um único teria sido suficiente.

Essa homogeneidade de opiniões é especialmente evidente em questões controversas, onde o politicamente correto é mais fácil de ser adotado. O medo do cancelamento social impede muitos de expressar pontos de vista divergentes.

No entanto, é essencial entender que a diversidade de perspectivas é fundamental para um debate saudável e uma sociedade verdadeiramente inclusiva.

O risco de cair na armadilha da uniformidade superficial é grande. Quando as vozes dissidentes são silenciadas, perdemos a oportunidade de explorar a complexidade dos problemas sociais e encontrar soluções inovadoras. Além disso, corremos o sério perigo de ignorar as preocupações legítimas de certos segmentos da sociedade, o que pode levar à alienação e ao ressentimento.

Portanto, é fundamental que reavaliemos nossa abordagem ao debate público. Devemos encorajar ativamente a diversidade de opiniões, mesmo quando estas desafiam as normas estabelecidas. Devemos criar espaços seguros onde as pessoas se sintam livres para expressar suas visões, sem medo de retaliação.

A uniformidade de pensamento é uma ameaça à democracia e à liberdade de expressão. Essa é a advertência das advertências. O medo do cancelamento social ou da não aceitação por um grupo não pode prevalecer sobre a necessidade de um diálogo verdadeiro e inclusivo. Ignorar essa diversidade de perspectivas pode levar a consequências graves, chafurdando na lama de uma uniformidade superficial que não reflete a complexidade da sociedade.

*Nelson Wilians é sócio fundador do escritório Nelson Wilians e Advogados

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