A semana pode ser decisiva para os rumos do inquérito que apura a suposta interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal. Nesta segunda-feira (11), o ex-diretor-geral da PF e aliado do ex-ministro Sergio Moro, Maurício Valeixo, foi ouvido na superintendência de Curitiba. Ele afirmou que Bolsonaro lhe disse que não tinha nada “contra a sua pessoa”, mas queria um diretor-geral com quem tivesse mais “afinidade”.
A abertura do inquérito foi pedida pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, para averiguar possíveis atos ilícitos revelados no discurso de demissão de Moro.
Nesta terça-feira, 12, está prevista a exibição do vídeo da reunião ministerial citada por Moro em seu depoimento. Ele afirma que foi ali que o chefe do Executivo ameaçou demiti-lo caso não mudasse a diretoria da PF.
Ao Estadão, o advogado Adib Abdouni, criminalista e professor de Direito Constitucional, disse não crer que a gravação seja capaz de comprovar algum crime. Para ele, a principal utilidade deve ser o confronto entre o conteúdo e o depoimento das testemunhas.
Os ministros Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, e Walter Braga Netto, da Casa Civil, foram intimados pela PF em razão da participação na reunião do conselho de ministros citada por Moro. O depoimento dos ministros será tomado no Palácio do Planalto.
“Diferentemente de Moro, os ministros foram convocados como testemunhas, o que os coloca em uma posição em que têm que falar a verdade, sob pena de cometer o crime de falso testemunho. Eles serão bastante exigidos quanto a essa dinâmica do presidente em requerer condutas do ministro da Justiça a fim de interferir na PF”, afirmou o advogado André Damiani.
Foto: Carolina Antunes/Presidência da República