Dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) indicam que 1,1 milhão de pessoas físicas passaram a investir em renda variável entre 2020 e 2021. Com esse crescimento, aumentou também a relevância das redes sociais na tomada de decisão desses investidores que já somam 4,2 milhões de pessoas. Nesse cenário, os influenciadores digitais passaram a ser uma das principais fontes de informação para investidores. Preocupada com esse movimento, recentemente, a CVM e ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) criaram um convênio para monitorar as atividades de influenciadores digitais que atuem com recomendações de investimentos nas redes sociais. A autarquia também emitiu um Ofício Circular com orientações sobre o tema, além de incluir em sua agenda regulatória para 2022 estudos sobre o assunto.
Pesquisa divulgada recentemente pela ANBIMA mostrou que influenciadores de investimentos ganharam 36 seguidores por minuto só no ano de 2021. São, ainda de acordo com a pesquisa, 406 mil publicações sobre o tema nos perfis estudados – um post a cada dois minutos.
“Os dados mostram o quanto este tema tem ganhado relevância no Brasil e no mundo”, afirma Jonathan Mazon, advogado sócio do Junqueira Ie Advogados, e que atua com mercado de capitais e governança. De acordo com Mazon, os influenciadores atendem uma demanda de interesse por investimento e por informações que acessíveis para quem não atua no mercado financeiro. Ele separou pontos positivo, negativo e o desafio deste novo cenário:
Ponto positivo: Educação financeira não requer registro na CVM e a democratização do conhecimento é, de fato, útil e necessária para o público ainda não familiarizado com a bolsa de valores, bem como com os ativos negociados e as operações realizadas naquele ambiente.
Ponto negativo: O problema começa quando um profissional passa a fazer recomendações de investimentos sem estar qualificado para isso ou em situação de conflito de interesse. É necessário garantir, por exemplo, que os profissionais que divulgam as suas análises com regularidade e recebem remuneração, ainda que indireta, para isso, estejam sujeitos às regras e à supervisão da CVM.
Desafio: Embora recomendação de investimentos seja sempre assunto para profissionais habilitados conforme as normas de cada país, nos Estados Unidos, por exemplo, existem também normas de transparência em relação à forma como os influenciadores digitais são remunerados pelas suas atividades. Ou seja, tanto os influenciadores quanto os negócios endossados por eles devem divulgar ao público a existência desses contratos. Por meio da Análise de Impacto Regulatório (AIR) que a CVM planeja realizar em 2022, a autarquia estará diante da sensível missão de definir a fronteira entre educação financeira e o exercício irregular da atividade de analista no Brasil.