Por Matheus Rangel*
O momento de grandes transformações que vivemos impulsiona diferentes tendências. Em uma nova realidade de trabalho híbrido pós-pandemia, a experiência dos funcionários e empresas também deu um giro. Segundo uma pesquisa da Oxford Economics com a Society of Human Resource Management, realizada com profissionais de dez países – entre eles, o Brasil –, em 2021 a flexibilização entrou de vez na lista das principais prioridades para que os gestores tenham maior possibilidade de atrair e reter talentos.
Durante o período de isolamento social, o mercado aderiu ao trabalho remoto para não parar as atividades. Com a chegada das vacinas contra a covid-19, ainda que os escritórios estejam reabrindo, o home office segue como realidade dos negócios – mesmo que em alguns seja adotada a rotina híbrida, que envolve dias de trabalho presencial e dias de trabalho remoto.
Do mesmo modo que a rotina do mundo corporativo foi ressignificada, os benefícios oferecidos aos funcionários tendem a se modificar. Assim como as empresas dos mais variados portes perceberam as vantagens do trabalho remoto, seja no impacto da folha de pagamento, seja no ganho de tempo em locomoção, até os impactos ao meio ambiente, os benefícios dos funcionários já não se encaixam na realidade anterior. Hoje, os colaboradores precisam ter flexibilidade na hora de escolher entre refeição ou compras no mercado, por exemplo, já que a alimentação acontece mais em casa.
Neste cenário, não dá mais para ouvir: “aqui não aceitamos vale-refeição”. Os cartões de benefícios flexíveis resolvem esse gargalo por meio da disponibilização de uma conta que pode ser usada das mais variadas formas e com um cartão de bandeira aceita em todos os lugares.
No modelo tradicional, quando as empresas criam seu pacote de benefícios, elas estabelecem exatamente o que os funcionários poderão receber. Porém, quando a empresa opta pelo modelo de benefícios flexíveis, ela cria um pacote bem mais amplo. Essa nova possibilidade engloba desde as variadas formas de alimentação/refeição, até serviços, como saúde, mobilidade urbana, auxílio pet, acesso à cultura, auxílio-creche, cursos de idiomas, associação a clubes e academias, medicamentos, serviços de telefonia, entre outros, a partir de uma carteira digital.
A nova legislação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a MP 1.108 também contribuem para a tendência dos benefícios flexíveis. Antes, para a empresa se beneficiar do Programa de Alimentação do Trabalhador, era necessário trabalhar com bandeiras fechadas, oferecidas pelos tradicionais players do mercado. Agora, a oferta é livre. Os benefícios flexíveis são valores creditados em um cartão e não são fornecidos em dinheiro, com a garantia, porém, que cada saldo será utilizado conforme a legislação permite.
Destaque para a alta demanda dos usuários por serviços de saúde, em um contexto em que o SUS não dá conta de atender todos, com a busca por qualidade de vida e saúde mental despontando em todo o mundo. Oferecer esse serviço é, sem dúvida, um dos maiores diferenciais atrativos de uma empresa que realmente se mostra antenada sobre as novas necessidades do mercado.
Já para o RH, a vantagem entra nos aspectos de otimização das estratégias de gestão e de carreira. Os responsáveis pela área não precisam mais lidar com uma gama imensa de fornecedores pulverizados, ganhando capacidade de controle por meio do contrato com um único prestador. Além disso, os benefícios são um fator muito importante da relação entre empresas e colaboradores. Na cultura brasileira, eles podem ser tão significativos quanto o próprio salário. São especialmente eficazes para equipes mais jovens, na faixa etária entre 20 e 30 anos, que valorizam a liberdade de escolha. Com a satisfação, também há a tendência de aumento na motivação da equipe e, consequentemente, na produtividade, no desempenho e na retenção de talentos.
Em cidades do interior do país onde existe oferta limitada, mas grande número de empresas, os benefícios flexíveis são uma saída extremamente válida, e startups com esse tipo de serviço crescem a cada dia.
Hoje, o modelo já está vencendo a barreira dos administradores mais avessos ao risco. Porém, para assegurar os melhores resultados, é importante que sua implementação seja feita com atenção e planejamento para evitar contratempos referentes à legislação e garantir a efetiva eficiência do investimento.
* Matheus Rangel é CGO da Niky, startup de soluções em pagamentos