Por Leonardo Trevisan*
Erros de avaliação parecem ser as únicas certezas na guerra da Ucrânia. E para os dois lados. A Rússia imaginou que seria uma “operação” rápida e indolor invadir o vizinho e que, portanto, bastariam tropas formadas por conscritos inexperientes para alcançar objetivos “bem amplos”. O Ocidente reagiu imaginando que o “bolso” resolveria a questão também rapidamente e que “duras” sanções, financeiras e econômicas, fariam as tropas russas voltarem urgente para casa. A realidade se incumbiu de exibir o tamanho do engano.
O complicado é que os erros de avaliação parecem que continuam. A reunião do G7, grupo das sete economias mais ricas do mundo, desde domingo na Alemanha, sugeriu novas sanções que permanecem longe da realidade. A proposta apresentada pelo presidente Biden, por exemplo, é a de banir a Rússia do comércio internacional de ouro. Motivo: Moscou é um player importante nesse negócio, vende algo em torno de US$15 bilhões/ano e é o terceiro maior produtor do mundo.
Na visão americana, essa punição atingiria duramente a economia russa. Porém, ouro é “reserva de valor” e, em momento de ciclo recessivo, não faltarão compradores para esse metal. A possibilidade de que o preço do ouro suba ainda mais é alta. Ou seja, a Rússia repetirá o que já aconteceu com o petróleo: acumulará ainda mais reservas em moeda forte com a venda desse ‘commodity’.
As novas sanções em relação ao petróleo também podem repetir o erro anterior: provocar maior alta de preço. O Instituto de Finanças Internacionais de Berlim avaliou que entre fevereiro e maio deste ano a Rússia acumulou U$ 110 bilhões com a alta do preço do petróleo. E não faltaram compradores: só a Índia aumentou em 700 mil barris diários a compra do óleo russo.
A China avançou em mais de um milhão em meio\dia. Muitas potências médias asiáticas seguiram o mesmo caminho. Ou seja, não faltou freguês para o produto russo. Em compensação, a economia europeia foi duramente atingida pela impressionante subida do custo da energia.
Os erros repetidos parecem não ser só do lado ocidental.
Em plena reunião do G7, no belo castelo de Elmau, na Baviera alemã, a artilharia russa voltou a atingir Kiev sinalizando que não pretende só o domínio do Donbass, no leste da Ucrânia, próxima de suas fronteiras. E, sim, avançar na direção do Norte. Ato contínuo, não sobrou alternativa ao Ocidente do que prometer mais armas à Ucrânia. E, deixar a paz ainda mais longe.
Leonardo Trevisan é professor de economia e relações internacionais na ESPM. Mestre em História Econômica, doutor em Ciência Política e pós-doutor em Economia do Trabalho.