Por Lenio Streck*
Artigo publicado originalmente na ConJur
Abstract: Indignai-vos…ou pereçais!
Pois a morte do homem negro (e morreu provavelmente mais por ser negro) de nome Genivaldo de Jesus Santos mostra a dura face do fracasso dos direitos humanos no Brasil. Nosso fracasso esculpido em carrara. Ou cuspido e escarrado.
Minha tese: como um espelho da história, (ess)a morte por tortura, com método nazi, deveria ser confrontado ao Brasil ideal. Esfregado na cara do “outro Brasil”. Ao Brasil que “flutua”. Ao Brasil dos que gostam de avatares.
Quem sabe coloquemos um avatar para representar os policiais que torturaram Genivaldo?
O vídeo abaixo…pensemo-lo como um “flutuante avatar…”! E perguntemos: esse é o nosso país? É isso aí? Vejam:
E que tal o linguajar dos agentes da PRF. Ouçam. Vejam. Meditem. Prato cheio para qualquer psicanalista.
Se alguém continuar insensível depois desse vídeo, é melhor buscar tratamento urgente. Está doente.
Por isso: indignemo-nos. Ou nos internemos.
O ensino da tortura como política de Estado
Mas, atenção. O porta-voz da Polícia Rodoviária Federal, Marcos Terrino, disse, pateticamente, que na PRF não se ensina isso. Céus. Que bom. Que genial. Imaginem se ensinassem.
Todavia, o porta-voz não disse tudo.
Explico. O “fessor” Ronaldo Bandeira, exibindo seu intelecto muscular, dá um espetáculo, desmentindo Marcos Terrino. Em cursinho de preparação para concurso da PRF, o “fessor Bandeira”, membro da PRF, ensina, sim, como se tortura. Sim, ele ensina, ri, ejacula perversão na frente dos alunos.
Se, após assistirem esse segundo vídeo, não entrarem em processo de indignação, internem-se. Urgente. Porque estão doentes.
Eis o vídeo.
E que tal este outro vídeo, também da PRF? Coincidência, Dr. Terrino?
Os nomes eu não sei ainda, mas devem ter sido alunos desse mesmo cara aqui.https://t.co/jA7XBd2xUz pic.twitter.com/QNVnzL8SZN
— Marcos (@aquariushist) May 26, 2022
Pronto. Eis a tragédia.
Só tenho uma palavra, imitando o veterano da segunda guerra Stephane Hessel, que resistiu ao nazismo como partisant: Indignai-vos!
E eu complemento: indignai-vos ou pereçais!
Post scriptum: A macabra travessia do Rubicão da decência e da vergonha
Isso tudo é muito sério. Ultrapassaram o Rubicão da decência. Vamos deixar isso assim?
Estamos sendo testados!
O promotor de justiça João Linhares publicou no Estadão agora no domingo um belíssimo poema denominado Viatura macabra. Extraio pequena parte. João conseguiu pegar o “isto é” do fenômeno:
Uma voz se calou
abafada,
contrita,
torturada…
Até quando esse teatro medieval será encenado?
Até quando a plateia aplaudirá o coringa?
O passarinho não pia mais.
Seu canto foi asfixiado pelo gás
venenoso do ódio.
*Lenio Luiz Streck é jurista, professor de Direito Constitucional e pós-doutor em Direito. Sócio do escritório Streck e Trindade Advogados Associados: www.streckadvogados.com.br.