Opinião

Percepções e reflexões sobre o home office

Deveremos aprender a mesclar modalidades de trabalho remota e presencial

Por Ricardo Tosto de Oliveira Carvalho*

Artigo publicado originalmente na ConJur

Minha intenção aqui não é escrever sobre as vantagens e desvantagens do home office, já há muitas pessoas fazendo isso. Porém, gostaria de compartilhar um pouco das minhas percepções, sentimentos e experiências com a dinâmica trabalho remoto e explorar alguns aspectos que enxergo.

Assim como muitos, logo no começo da pandemia, em poucos dias tínhamos todos os colaboradores trabalhando em casa. Não foi fácil, porém, tivemos bons resultados. Além dos esforços do TI, imprescindíveis para o momento, vi que todos deram o melhor de si.

Foi um desafio e tanto, mas tentamos ver tudo isso de forma otimista, afinal a tecnologia está aqui para isso e temos que aprender a utilizar o melhor dela. Quando criança, assistia a “Os Jetsons” e ficava imaginando a facilidade de trabalhar e conversar de qualquer lugar por meio de uma tela de computador. Ah, e se tivesse um carro voador, melhor ainda.

Não só garantimos a produtividade, como em alguns casos ela até melhorou. O próprio fato de não se perder tempo em deslocamentos propiciou mais tempo, menos gastos de energia e estresse. E para muitos, como eu, foi muito bom ficar um período mais em casa com a família, criar novas dinâmicas de relacionamento, colocar a leitura em dia e, claro, prestar a atenção ao redor para amparar todos aqueles menos privilegiados.

E vi todo o mercado se adaptar a essa ruptura. Considerando clientes, parceiros e fornecedores, vi as pessoas se esforçarem muito e, de acordo com suas condições e possibilidades, colocarem muita energia para dar certo. E acredito que tenha funcionado bem, pois várias empresas tiveram uma melhora na produtividade.

Porém, essa ainda não é uma realidade de mercado. Já há algumas semanas comecei a ver um movimento contrário. Estamos impacientes por ficar em casa, apesar de todos os receios. Estamos acostumados a estar com outras pessoas, ver, conversar, trocar ideias, observar a linguagem corporal, perceber sentimentos, ou seja, receber feedback não verbal. Muitas decisões e projetos fluem melhor assim. Às vezes um papo de cinco minutos no café traz uma nova ideia ou solução, uma reunião rápida, um almoço ou happy hour. A maioria das atividades depende do “cara a cara”.

Também acredito que tenha dado certo inicialmente porque já conhecíamos a grande maioria das pessoas com as quais estávamos interagindo virtualmente, então foi uma adaptação do relacionamento e da comunicação.

Não estou aqui fazendo uma apologia ao retorno sem critérios, e, sim, lembrando que desde o Paleolítico evoluímos como animais gregários, e fomos ensinados desde sempre, seja na guerra, nas empresas ou nos projetos, que a colaboração é o melhor caminho, e o virtual nos impõe alguns limites, não tecnológicos, mas humanos.

Também vejo que a maioria das residências não está preparada para o trabalho remoto permanente, pois não há estrutura. Além disso, muitas vezes trabalhar em casa gera também distrações causadas pelo barulho ou pela falta dele, pois ficar sozinho muito tempo também não é fácil. Vejo os profissionais de recursos humanos de várias empresas lidando com angústias, como o sentimento de afastamento dos outros colaboradores. Lembro que não nos afastamos por livre vontade, fomos forçados e nossa liberdade, por uma boa causa, cerceada. Então é claro que muita gente está impaciente. Sair para trabalhar é uma fonte de relacionamento, aprendizado, cooperação e produtividade, além de garantir o sentimento de pertencimento.

Acredito que, daqui para frente, teremos que encontrar sabiamente e de forma pragmática o melhor desses dois mundos, aprender a mesclar períodos em home office e períodos coletivos. Não será a mesma solução para todos e, sim, adequadas às diferentes realidades, dependendo do profissional, da função, da situação, das soluções almejadas, entre outras particularidades.

Inicialmente voltaremos, como eu estou fazendo, com muitos cuidados, ainda sem abraços, apertos de mão, mas com a alegria de compartilhar com os demais conhecimento, a busca criativa por soluções e o prazer do relacionamento saudável.

 

*Ricardo Tosto de Oliveira Carvalho é sócio-fundador do Leite, Tosto e Barros Advogados

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