Por Walfrido Warde*
Artigo publicado originalmente na Folha de S.Paulo
O mercado de construção brasileiro precisa de ajuda. E merece ajuda. É, talvez, o maior provedor de postos de trabalho, definitivamente no contexto da mão de obra menos qualificada. Via de acesso rápido à renda para a massa trabalhadora que empobrece a cada dia à mercê da própria sorte e do castigo com que a flagelam as volúveis, descoordenadas e ineficazes políticas de combate à pandemia.
A indústria da construção civil foi vítima, recordemos, desde os anos 2014, com o aparecimento da Operação Lava Jato, de uma dizimação inadvertida e absolutamente desnecessária.
O frenesi punitivo, somado à esperança de erradicar a corrupção, mais uma vez pela espada justiceira de pseudo-heróis em cavalos brancos, inculcou um absoluto desprezo aos efeitos colaterais adversos. E foram muitos!
Demonizamos a política para dar voz e poder a desvairados de todo gênero. Dividimos o povo por certezas ilusórias. E desmantelamos o mercado de construção civil, sobretudo o de construção pesada, com gravíssimas consequências para toda a economia.
Não soubemos distinguir as empresas, que foram destruídas, de seus controladores e administradores, que restaram livres e ricos. Era possível livrá-las da cultura de corrupção que lhes foi imposta e, ao mesmo tempo, permitir que ressarcissem o erário. Mas preferimos esmagá-las sob a pata pesada do Estado.
Lançamos ao vento milhões de postos de trabalho, boa parte do conteúdo nacional, alquebramos a renda, o consumo e a arrecadação de impostos. E, com isso, comprometemos a capacidade do Estado de investir em infraestrutura, que é um dos motores da construção civil.
As empresas que atuavam no setor privado, para incorporar, construir e vender imóveis residenciais e comerciais sofreram os reflexos de tudo isso.
A diminuição da renda, o aumento do risco de crédito e o seu escasseamento pareciam obstáculos insuperáveis até que o desaquecimento profundo de nossa economia ofertasse alento.
A desvalorização do real em face do dólar e a diminuição da taxa básica de juros foram um lampejo de esperança para abrir as torneiras do crédito imobiliário.
O Banco de Dados da Câmara da Indústria da Construção informou que, em 2019, a alta de 1,6% da construção contribuiu para alavancar o Produto Interno Bruto em 0,5%. Os primeiros meses de 2020 prometiam uma retomada, com aumento de 56% das vendas e de 102% dos lançamentos, segundo o Sindicato de Habitação de São Paulo, quando a esperança se confrontou com o espraiamento do contágio da Covid-19.
Ainda que 88% das obras estejam em curso, o certo é que a demanda será afetada, porque o Estado não é capaz de investir e porque o consumidor não tem acesso à renda, em vista do galopante desemprego no país, e ao crédito, a despeito das dadivosas medidas do Banco Central em favor dos bancos.
É, em meio a esse cenário de desolação, indispensável socorrer a construção civil, colhida pela imolação e pela desventura, porque dela, em grande medida, depende o Brasil.
Walfrido Warde é sócio-fundador do Warde Advogados e presidente do IREE, o Instituto para a Reforma das Relações entre Estado e Empresa